Guerra Civil
Na
sexta feira, na hora do almoço, fui fazer uma visita que me devia faz tempo:
ver a exposição de fotos da Guerra Civil Espanhola no Centro Cultural da Caixa
Econômica Federal na Praça da Sé.
Não
entendi bem o porquê, mas essa exposição se chamava Valise Mexicana.
Havia
combinado com amigos. Não deu certo nem com um nem com outro. Resolvi então ir
sozinho. Era importante para mim. História de família.
Chegando
lá, para minha frustração, e raiva de mim mesmo, a exposição havia se encerrado
há dois dias.
Imediatamente
quis ir embora, mas vislumbrei, a partir da recepção, ao fundo do saguão de
exposição, alguma coisa voltada para o público infantil. Não resisto. Fui lá
ver... “Viagem pelo Mundo Através das Histórias”. Muito bonita. Singela.
Estava
disposto a ir embora, ainda meio p da vida, mas, pensei, já que estou aqui
vamos ver o que tem.
Dirigi-me
a uma mocinha, guia do Centro Cultural, que estava sentada conversando com um
senhor, que logo se dirigiu a mim declarando que tinha 78 anos e que na
infância levava a marmita para seu irmão que tinha uma pequena loja nos
arredores da, então já existente, Caixa Econômica Federal ali na Praça da Sé.
Um
senhor muito simpático, culto, e muito bem conservadinho para a idade.
A
mocinha, que aparentava ser bem jovenzinha mesmo, mas que depois fiquei sabendo
já havia feito jornalismo na Federal do Ceará e cursava agora mestrado na USP,
em algo assim como Comunicação e Cultura. Iniciou o processo de apresentação do
Centro Cultural, não sem antes me informar que, ah!! E esse que é muito legal:
o elevador, que dá acesso ao segundo e terceiro andares, onde ocorrem as
exposições itinerantes, estava quebrado. Mas, e sempre tem um mas não é Lia
Crespo?! Seria possível visitar no museu da CEF a exposição permanente que se
refere à história da Caixa Econômica Federal, que fica no sexto andar e pode
ser acessada pelo elevador que dá acesso à agência bancária.
Tipo
de coisa que nunca pensei em ver na vida, mas a menina era tão simpática, um
sorriso lindo e com um jeito de se expressar absolutamente cativante. Fui lá.
Logo
ao ver uma grande fotografia que retratava os primeiros funcionários da CEF,
que deveria conter uns cem, pelo menos, retratos, contei que havia fotos de
quatro mulheres. Comentei com Amandinha, (Amanda, é o nome dela), que nos dias
de hoje, certamente a quantidade de mulheres é maior, mas que não sobem, ainda,
ao topo da pirâmide administrativa.
A
partir desse meu comentário abriram-se as portas para um dos mais ricos,
divertidos e agradáveis diálogos que já tive.
A
menina se mostrou muito inteligente, bem informada e com um riquíssimo senso
crítico.
Apresentou-me
toda a história da CEF de um modo absolutamente “colorido”, falando das
madeiras que compunham as salas, da acústica especialmente elaborada da sala da
presidência, da história das loterias, da interessantíssima história das
máquinas de calcular, várias estão expostas, e muito mais.
Numa
das máquinas de calcular observei em uma tecla a inscrição “entra”, o que me
causou estranheza, afinal somente vemos hoje em dia “enter”.
Amanda
apresentou-me a sala da história das loterias Caixa, e, muito linda, uma
exposição de bilhetes da loteria federal desenhados por grandes artistas
brasileiros.
Até,
mais ou menos o início dos anos 60 os bilhetes da loteria federal eram
desenhados por grandes artistas plásticos brasileiros, Djanira, Aldemir
Martins, Tarsila do Amaral, Candido Portinari, Di Cavalcanti, e outros. (acho que se tornaram grandes depois). Mas
foi uma iniciativa de mecenato bem legal. E os bilhetes estão lá. Pensei que um
ganhador, à época, que tivesse se esquecido de conferir o bilhete, ganhasse
mais agora vendendo o bilhete para um colecionador de arte ou leilão.
Uma
coisa, que ela já me havia “cantado”, (usando o termo dos sorteios lotéricos),
era a vista que teríamos a partir de um dos lados do andar onde se encontra o
museu.
Uma
interessantíssima vista da Praça da Sé, da Catedral da Sé e adjacências.
Comentei
o quão feio, abandonado e degradado está o centro da cidade. Ela citou a
diferença de opinião entre os frequentadores do museu. Muitos falam da questão da segurança, pois há
muitos moradores de rua, muita gente bêbada, prostitutas, comércio irregular.
Mas, ela com seu olhar arguto e sua experiência como trabalhadora na região, me
expôs uma opinião bem interessante, ela disse – o centro é mais feio do que
perigoso.
Concordo
plenamente. Nos muitos anos em que moro e trabalho aqui no centro, foram
pouquíssimas vezes, felizmente, em que presenciei ou fiquei sabendo de cenas ou
situações de violência. (Se contabilizasse aqui as visões da miséria do povo de
rua como violência seria outra história).
Essa
situação de pobreza e miséria foi em parte enfrentada pelo Programa De Braços
Abertos, mas creio que é apenas solução, (se é que é solução), para parte do
problema. Estou certo que mais e melhor apoio às pessoas em situação de rua
pode ser provido.
A
Praça da Sé é uma região bastante simbólica para a cidade de São Paulo e muito
simbólica para a situação de abandono e de desmazelo do centro da cidade.
Independentemente
disso vale muito a pena uma visita à região, que tem coisas maravilhosas, e ao
Centro Cultural da Caixa Econômica Federal.
E se
derem sorte, com a Amanda como guia.
São
Paulo, 16 de Outubro de 2016.