1. Quem está precisando de ajuda?
Fui um dia desses, logo
cedo, à agência dos correios da Rua Martin Francisco para postar para uma amiga
do Rio de Janeiro o livro 30 Anos do Ano
internacional das Pessoas Deficientes.
Resolvi ir por um caminho
novo: o lado par da Rua das Palmeiras. Caminho que utilizo muito pouco, já que
a acessibilidade desse lado da rua era muito ruim. Agora, com a instalação de
guias rebaixadas em algumas esquinas a acessibilidade está apenas ruim, pois o
estado de conservação das calçadas é lamentável.
Um dos piores trechos é o
da entrada da garagem da Rádio CBN, onde, talvez pelo próprio abandono do
local, vários moradores de rua tomam por quarto de dormir (e banheiro).
Ao passar por lá uma
dessas pessoas, um homem jovem, em lamentável e triste condição, gemia e
implorava por um prato de comida.
Passei alguns metros, como
tantas vezes passo por tantos outros que me pedem. Não resisti, porém, às suas
súplicas, voltei e coloquei em sua mão uma moeda de um Real. Ele olhou para
mim, primeiro para meus olhos, depois para minha cadeira de rodas e perguntou:
o senhor precisa de ajuda?
Moral
da história (preconceituosa): todas as pessoas com deficiência precisam de
ajuda.
2. Todos são amigos.
Fiz amizade com o Manoel,
um contumaz, fiel e ébrio frequentador do bar aqui em frente do meu prédio.
Quase todos os dias o vejo
sentado sempre à mesma mesa na calçada. Às vezes estou lá com ele bebendo uma
também.
Ontem, ao chegar de algum
compromisso vi que ele estava lá. Subi, deixei a papelada sobre a mesa, dei
meia dúzia de beijos na patroa e fui para minha cerveja em companhia do Manoel.
Chegando ao bar não o
encontrei na mesa da calçada. Entrei e perguntei a um funcionário pelo meu
amigo, dizendo que eu o tinha visto numa mesa do lado de fora, agorinha mesmo.
Disse-me o funcionário: “Ele
está lá, está lá fora, sim.” Voltei para fora e vistoriei todas as mesas,
enroscando minha cadeira de rodas em algumas. Não o encontrei.
Retornei ao funcionário
que insistiu e decidiu me acompanhar. Fomos até a última mesa na ponta da
calçada, onde estavam dois homens, ilustres desconhecidos, um deles em cadeira
de rodas, para o qual o funcionário que me acompanhava apontou e disse: “Olha o
seu amigo aí.”
Moral
da história (preconceituosa): todas as pessoas com deficiência são amigas.
3. Somos parecidos?
Fui à casa do meu amigo
Sacha, que, como eu, também usa cadeira de rodas motorizada.
Ao ir embora, estava parado
na esquina para atravessar, quando vi surgir um senhor oferecendo-se para parar
o trânsito para que eu atravessasse. Eu lhe disse:
— Não
é necessário, pode deixar que atravesso sozinho, o farol vai fechar logo, aí
então eu atravesso.
Ele não se convenceu, foi
indo para o meio da rua com os braços levantados, enquanto gritava:
— Vem
Seu Sacha, vem Seu Sacha...
Moral
da história (preconceituosa): todas as pessoas com deficiência são iguais.
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