Simpósio franco-latino-americano de pesquisas sobre a deficiência
Paris, 10 e 11 do julho de 2014
Chamada de Trabalhos
Para trazer novas perguntas relacionadas à deficiência, o Grupo da pesquisa sobre a
deficiência, acessibilidade e práticas escolares e educacionais (GRHAPES, França), o
Instituto nacional superior de formação e pesquisa para a educação dos jovens com
deficiência e os ensinos adaptados (INS HEA, França) e o Programa deficiência e sociedade
da Escola de ensino superior nas Ciências Sociais (EHESS), organizam um simpósio francolatino-
americano de pesquisa sobre a deficiência em Paris (França), nos dias 10 e 11 do julho
de 2014. Neste simpósio, pesquisadores de diferentes disciplinas das ciências humanas e
sociais apresentarão pesquisas sobre a deficiência.
Este simpósio tem três objetivos: discutir os paradigmas e as metodologias usados nas
pesquisas em ciências humanas e sociais sobre a deficiência nos espaços francófonos e da
América latina, permitir que os pesquisadores e jovens pesquisadores apresentem pesquisas e,
finalmente, promover colaborações internacionais para a realização de novos projetos
científicos.
Há várias décadas, as pesquisas em ciências humanas e sociais sobre a deficiência nos
países francófonos e da América do Sul têm sido desenvolvidas em áreas culturais,
econômicas e religiosas, mas compartilham referências anglófonas. A maioria dos
pesquisadores envolvidos têm se apropriado dos Disability Studies, ou identificando-se neste
espaço científico emergente, ou para discordar deles.
Do ponto de vista acadêmico, as referências ao “modelo social” e ao “modelo médico”
são sistematicamente usados nos dois continentes. Esta dicotomia entre duas visões de
deficiência estruturou fortemente as pesquisas sobre a deficiência na esfera anglófona.
Amplamente disseminados internacionalmente, estes modelos têm legitimado a percepção de
uma única interpretação médica da deficiência. Estes modelos são o resultado de uma
construção histórica1, e, para Stiker (2005), fornecem uma visão simplificada e distorcida da
realidade social.
A relevância desses modelos e sua utilização diferencial por pesquisadores
francófonos e da América do Sul merecem ser objeto de debate. No espaço francófono, a
utilização prudente destes modelos foi estabelecida nas últimas décadas. Ao mesmo tempo,
outros pesquisadores têm promovido outras construções teóricas, como processo de produção
de deficiência (Fougeyrollas et al., 1998), que defende uma visão interativa entre as
atividades do indivíduo e do meio ambiente. Esta perspectiva parece se diferenciar da posição
assumida por muitos pesquisadores da América do Sul, que afirmam sua adesão ao modelo
1 Durante a década de 1970, muitas associações de pessoas com deficiência são radicalizadas e criticam as
práticas de reabilitação fisica e profissional. Movimentos militantes americanos promovem a idéia de que as
pessoas com deficiência têm de ser mestres de sua vida e teorizam a ideia sob o nome de « Independent Living
Movement ». Nó início da década de 1980, um universitário inglês com deficiência, Mike Oliver, teoriza o
« modelo médico » da deficiência (Oliver, 1983). Neste modelo, os médicos percebem a deficiência como uma
tragédia individual, tornando abstração das barreiras sociais e ambientais. Além disso, não conta a personalidade
ou os desejos do paciente para decidir o tratamento que irá ser aplicado. Oliver também teoriza o « modelo
social » : a deficiência é o resultado das restrições impostas pela sociedade capitalista e, portanto, deve dissociar
a deficiência fisica não tem nenhuma relação com ela. Se as pessoas com deficiência se sentem excluidos, não é
a sua culpa. Pelo contrário, é a sociedade que tem de se adaptar (Shakespeare, 2002).
social, em oposição ao modelo médico e à visão emitida pela Organização Mundial de Saúde2.
E o processo de produção de deficiência não é conhecido na América latina.
Quais são os fundamentos teóricos, epistemológicos e sócio-históricos destas
escolhas? Com o intuito de explorar e desconstruir esses modelos, o simpósio vai começar
com duas mesas-redondas em que discutirá a epistemologia da deficiência e a influência dos
Disability Studies nos espaços francófonos e latino-americanos. Uma terceira vai tratar das
relações entre deficiência, pesquisa, políticas públicas e informações para os cidadãos.
Pesquisas em ciências humanas e sociais desenvolvidas nas esferas francófonas e
latino-americanas sobre a deficiência têm tradicionalmente privilegiado questões sobre
representações, educação, reabilitação profissional, acesso a emprego, esporte ou
acessibilidade. Também trouxe novos temas como construção da identidade, o papel do corpo,
participação social e movimentos sociais. Algumas áreas de pesquisa permanecem
inexploradas, como a sexualidade e questões transnacionais de deficiência. Para contribuir
para a vitalidade desses debates, convidamos a comunidade científica a propor um projeto de
comunicação sobre um dos seguintes temas:
1. Deficiência no cruzamento de identidades (gênero, classe social, etnia, sexualidade,
geração)
2. O corpo deficiente e suas construções sociais.
3. Participação social e comprometimento das pessoas com deficiência através das
práticas culturais, artes e esportes.
4. Mobilizar o direito para defender a causa das pessoas com deficiência.
5. Mudanças na política de educação desde formação inicial para o ensino superior.
Educação especial, integração e inclusão.
6. As implicações da acessibilidade: garantir o acesso a locais públicos, ao
lazer, ao esporte e aos locais do patrimônio natural e protegido.
7. Deficiência, formação, orientação profissional e de emprego. Carreiras impostas ou
escolhidas?
8. Deficiência, intimidade e sexualidades.
As pesquisas expostas podem tratar do período atual ou adotar uma
perspectiva histórica. As perspectivas comparativas serão privilegiadas pelo comitê
cientifico.
Modalidades de proposta:
Propostas de trabalhos devem ser enviadas para o endereço
encuentrodiscapacidad2014@gmail.com antes de 20 de janeiro de 2014.
Estas propostas devem incluir o título da proposta, um resumo de 300-400 palavras
com uma biografia do autor de cinco linhas. Podem ser apresentadas em Espanhol, Francês ou
Português.
Os idiomas da conferência serão a Língua dos Sinais Francesa (LSF), o Espanhol e o Francês.
As propostas de comunicação em Português serão avaliadas, e as comunicações em Português
poderão possivelmente ser interpretadas.
Coordenador geral : Gildas Brégain (CNRS/ CERHIO, Universidade Rennes II),
Co-coordenador : Martial Meziani (GRHAPES, TEC, INSHEA).
Responsabilidade administrativa : Serge Ebersold (GRHAPES, INSHEA) - Didier
Séguillon (GRHAPES, Université Paris X).
Comitê da organização : Andrea Benvenuto, Serge Ebersold, Didier Séguillon, Gildas
Brégain, Martial Meziani, Maria Noel Míguez, Isabelle Ville, Marie Coutant, Nel Saumont,
2 Para alguns pesquisadores da América do Sul, a definição da Organização Mundial de Saúde naturaliza a
existência de uma « falta » e reduz a problematização da construção social e histórica da categoria das pessoas
com deficiência.
Olivia Brachet, Yannick De Bouillane, Christel D’Estienne d’Orves, Elisa Mendoza, Patricia
Dekkers-Sanchez, Yana Zdravkova, Julia Midelet.
Comitê cientifico : Isabelle Ville (INSERM, EHESS, France), Andrea Benvenuto (Université
Paris 8, PHS-EHESS, France), Serge Ebersold (GRHAPES, INSHEA, France), Didier
Seguillon (Université Paris X, France), Martial Meziani (GRHAPES, TEC, INSHEA,
France), Pieter Verstraete (Université Catholique de Louvain, Belgique), Carolina Ferrante
(FONDECYT, Universidad Católica del Norte, Antofagasta, Chile), Liliana Pantano
(CONICET, UCA, Argentine), Miguel Ferreira (Universadad Complutense de Madrid,
Espagne), Maria Noel Míguez (Universidad de la Republica, Montevideo, Uruguay), Luiz
Gustavo Pereira de Souza Correia (Universidade Federal do Sergipe, Brasil), Patricia
Dekkers-Sanchez (Université de Amsterdam, Hollande), Sandra Katz (Universidad de La
Plata, Argentine), Aleida Fernandez (Universidad Nacional, Bogota, Colombie), Anibal
Miranda (Panama), Gildas Bregain (CNRS, Univ. de Rennes II, France ; Universidade
Federal de Santa Catarina, Brésil), Eliza Mendoza (EHESS, France), Carolina Jiménez
Pizzaro (RIESDIS, Chili), Beatriz Miranda-Galarza (VU University Amsterdam, Hollande),
Eric Deleseulec (INSHEA, France), Laura Sosa (Universidad Nacional de La Plata,
Argentine).
Nenhum comentário:
Postar um comentário