sábado, 18 de junho de 2011

Acessibilidade na prática. Minha vivência cotidiana.

Primeiramente não podemos conceber transporte e locomoção sem que se considere o pedestre, coloco aqui, também como pedestre, o usuário de cadeira de rodas.
Desde que me mudei para o Centro de São Paulo, Santa Cecília, tenho feito a maioria dos meus deslocamentos a pé, (rodando, em cadeira de rodas motorizada), ou em transporte coletivo, sobretudo, ônibus e metrô, mais raramente utilizo o Atende[1]. Tentei utilizar trem, minha mãe mora em São Caetano do Sul e tentei por duas vezes chegar lá com esse meio de transporte. É impossível.
Está contribuição se baseia em minha vivência pessoal e cotidiana.
Calçadas:
·        Enfatizando: para se chegar ao ponto de ônibus, à estação de trem ou metrô, ou mesmo para se tomar um táxi, é indispensável usar a calçada.

1.      O estado de conservação, regularidade e padronização da esmagadora maioria das calçadas da cidade é lamentável: buracos, degraus, inclinação exagerada em benefício de entrada de garagens, irregularidade entre calçadas de cada imóvel, inexistência de guias rebaixadas, etc.
2.      Em muitas situações lojas fazem da calçada estacionamento; um carro maior ou mal estacionado impede a passagem de pessoas em geral e inviabiliza completamente o transito de usuários de cadeiras de rodas;
3.      Bancas de jornal, postes dos mais variados, lixeiras de condomínios, árvores com suas raízes são outros obstáculos que dificultam ou impedem a locomoção.
4.      O farol para pedestres, quando existe, tem tempo curtíssimo e acontece de somente abrir duas ou três vezes após a abertura para automóveis;
5.      Bancas de jornal instaladas em esquinas dificultam a visibilidade para a travessia
6.      Ausência absoluta de fiscalização. Cada um faz o que quer e como quer, na e com a calçada;
Metrô:
1.      Por incrível que pareça os novos trens do Metrô, recentemente adquiridos, oferecem menor acessibilidade do que os antigos. Isso porque os carros ficam numa altura maior ao estacionarem, criando um degrau com 10 a 15 centímetros entre a plataforma e o vagão;
2.      As plataformas elevatórias instaladas em várias estações ajudam, mas são de má qualidade e frequentemente encontram-se em manutenção;
3.      Há falta de pessoal: comumente espero bastante para embarcar, em comparação a um usuário não deficiente em razão da não disponibilidade de funcionário para me ajudar. No desembarque, ainda que tenha havido comunicação entre uma estação e outra, é comum não encontrar nenhum funcionário para apoio.
Ou desembarco sozinho, arriscando-me, ou peço ajuda para algum passageiro.
4.      Em horário de pico, nem pensar.
5.      Ressalto que os funcionários, quando tem disponibilidade, são muito bem treinados, educados e gentis.
Ônibus:
1.   Ainda são muito poucos os chamados “ônibus acessíveis”. Normalmente espero o triplo do tempo, ou mais, em relação a outro usuário, até que passe um ônibus com rampa, que são os mais comuns. Nunca peguei ônibus com elevador;
2.   Ainda que os motoristas dos ônibus, assim como os cobradores,  sejam educados e prestativos,  têm um estilo de dirigir mais para caminhão. Aceleradas e freadas bruscas e velocidade causam desconforto e insegurança;
3.   Os ônibus são razoavelmente acessíveis para usuários de cadeiras de rodas, não são para outras pessoas com mobilidade reduzida. Degraus dentro dos veículos são enormes.
4.   As rampas móveis para embarque e desembarque são exageradamente inclinadas. Isso ainda quando o ônibus para junto à calçada, situação corriqueira no Centro e em alguns bairros melhores.  Na periferia essa possibilidade é inexistente;
5.   A acessibilidade desses ônibus é bastante questionável. A inclinação das rampas, por exemplo, está completamente fora dos padrões ABNT;
6.   Raríssimos ônibus intermunicipais, EMTU, acessíveis. Parece que essa empresa está acima da Lei.
7.   O que justifica não existir um sistema intermunicipal de transporte porta a porta, modelo Atende, para pessoas com deficiência? O que também é de responsabilidade da EMTU.
Trem:
1.      Só conheço a estação do Brás com elevadores. Todas as outras têm muitos, muitos, degraus.
2.      Nessas estações o usuário de cadeira de rodas é carregado pelos seguranças, com grande risco para todos: carregado e carregadores.
3.      O vão que fica entre os vagões e a plataforma é enorme, oferecendo risco para todos os usuários, em especial para as pessoas com deficiência, idosos, etc. Além do vão, com cerca de vinte a trinta centímetros, também ocorre um degrau entre dez a vinte centímetros. Dependendo da estação, do trem e da plataforma.
4.      Não há nenhum treinamento para os seguranças que fazem o atendimento às pessoas com deficiência, que são terceirizados. Na prática são eles que fazem esse atendimento. A Companhia Paulista de Trens Metropolitanos - CPTM alega que esse treinamento foi realizado, me parece até que pela Associação Metroviários Amigos dos Excepcionais - AME, mas o pessoal capacitado não é, certamente, o que realiza atendimento direto às pessoas com deficiência.
Atende:
1.      Gostaria de conhecer as razões técnicas para a não mais existência dos chamados “box” nos novos carros do Atende. Agora as cadeiras de rodas ficam no meio do veículo presas no piso. A sensação de insegurança é grande.
2.      Pessoas que, por exemplo, estudam a noite, não podem utilizar o Atende, que atende apenas e somente até às 20:00 horas.

Infelizmente, mesmo com a boa vontade, honestidade de intenções e empenho da grande maioria dos funcionários públicos, funcionários e gestores das empresas citadas,  a questão da acessibilidade e do transporte para pessoas com deficiência é uma questão de vontade e decisão política. Que não está acontecendo em nossa cidade.







[1] Sistema publico de transporte porta a porta realizado por meio de vans com plataformas elevatórias gerenciado pela SPTrans.

Um comentário:

  1. o mais impressionante: as cidades acessíveis são mais acessíveis e confortáveis para todos nós. e nem por isso...

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