quinta-feira, 9 de junho de 2011

Cronica de uma viagem à Brasilia.



Convidado pelo Ministério da Educação estive no último dia cinco de Maio em Brasília para participar de uma Câmara Técnica sobre a inclusão escolar de crianças e jovens com deficiência no ensino público regular. Estavam também presentes, técnicos, estudiosos, profissionais e ativistas pelos direitos das pessoas com deficiência de todo o país.
Foi um dia intenso com muitos debates e informações acerca dessa iniciativa exitosa do Ministério da Educação e que tem nosso irrestrito apoio.
Aproveitei essa viajem, cuja estadia de um dia assim como as passagens aéreas foram pagas pelo MEC, para outros contatos e reuniões. Alterei o dia da volta junto à empresa aérea e permaneci em Brasília por mais um dia e meio. Arcando, com recursos da Pastoral, essa e outras despesas.
Uma religiosa amiga que mora lá, procurou, a meu pedido, um local ligado à Igreja para a minha hospedagem. Para quem não me conhece pessoalmente, informo que utilizo cadeira de rodas motorizada, e por isso, a procura teve que, necessariamente, levar em conta as condições de acessibilidade do local.
Depois de bastante pesquisa por telefone finalmente uma Casa se apresentou com as condições necessárias para receber uma pessoa com deficiência, a Pontifícias Obras Missionárias – POM.
De fato o local tem bastante acessibilidade, não existem degraus, pude circular por quase todos os espaços, restaurante, biblioteca, capela. (Menos o altar. Ainda não vi um altar com acessibilidade).
No entanto, um problema: as portas dos banheiros dos quartos destinados aos hóspedes é muito estreita,  o que não permite a passagem de uma cadeira de rodas!
Passei por situação constrangedora e que envolveu risco à minha segurança, pois tive que realizar, dentro de minhas possibilidades, malabarismos para tomar um simples banho. Outras necessidades como escovar os dentes e etc. realizei num banheiro externo ao setor de hospedagem, que não possui chuveiro.
Não é a primeira vez que passo por situações semelhantes a esta. Certamente não será a última.
Eu gostaria que fosse a última. Eu não quero mais passar por situações como esta. Eu não quero que outras pessoas com deficiência passem por situações como esta!
Foi por isso, e para isso, que construímos e realizamos a CF 2006. O convite foi: “Levante-te. Vem para o meio”. Pois bem: estamos nos levantando, estamos, a duras penas, fazendo a nossa parte, muito pouco ainda. Criamos a Pastoral das Pessoas com Deficiência da Arquidiocese de São Paulo, e em várias outras regiões. Pessoas com e sem deficiência estão se mobilizando para esse grande projeto que é o dar vida a todos os propósitos contidos no Documento Base da CF 2006.
Mas, qual o significado para a Igreja dessa Campanha? Quais as ações práticas realizadas? Bastou a construção de rampas nas entradas de algumas igrejas e tudo está resolvido?
Devemos cobrar e exigir dos governantes que cumpram a lei, que respeitem nossos direitos, mas o padre e o bispo, os coordenadores das tantas instituições da Igreja não precisam fazê-lo?
Ficamos moralmente fragilizados em cobrar governos e sociedade para que cumpram a lei, quando em nossa Casa essa preocupação é pequena.
Lá em Brasília, ao informar a funcionária administrativa, que me recebeu tão bem, assim como todos os outros funcionários, das dificuldades pelas quais estava passando, ela, em sua ingenuidade argumentou: então, a solução é não recebermos mais pessoas com deficiência.
Fiquei profundamente entristecido com tal afirmação, que repito, estou certo, não foi por mal, mas pelo grande desconhecimento que essa moça, assim como a grande maioria do povo brasileiro, governantes e Igrejas, têm em relação à realidade de vida e necessidades das pessoas com deficiência.
Ninguém se recusa em ajudar uma pessoa com deficiência, seja para subir um degrau com a cadeira de rodas, seja para contribuir com uma entidade assistencial. É da natureza do povo brasileiro. Mas, quando queremos que essas ajudas sejam dispensadas e nossos direitos respeitados, “a porca torce o rabo”.
Tenho nitidamente a impressão de que o que as pessoas valorizam, sendo o objeto da  importância, é a ajuda, o ato, e não o beneficiário do ato, no caso, nós, pessoas com deficiência. Se nossos direitos forem garantidos, seja pela Igreja, seja pelos governos, como ficará a ajuda, como ficará o auxílio, essa caridade menor que insiste em ver-nos como eternos dependentes?  
Fortaleço-me na Verdade, na crença de que levantar e ir para o meio foi a escolha correta. Foi o caminho que Jesus nos ensinou e que não tem volta, seja pela fé em seus ensinamentos, seja pela certeza que ir para o meio, estar no meio,  significa lutar por um outro mundo, que além de possível, é certo. Um mundo com direitos e oportunidades para todas as pessoas!
Vamos em frente!
A viagem a Brasília afinal foi bastante proveitosa. Além de contribuir com as discussões sobre Educação Inclusiva no Ministério da Educação, tive outros compromissos, entre os quais com a Ministra Tereza Campello, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, apresentei a Pastoral das Pessoas com Deficiência da Arquidiocese de São Paulo.
Vejam a foto.
Tuca Munhoz.
Pastoral das Pessoas com Deficiência da Arquidiocese de São Paulo.

Um comentário:

  1. Tá duro sair do paradigma caritativo, mas aos poucos vamos "alargando as portas" e a sociedade vai ter que passar a entender que a pessoa com deficiência quer ser é cidadã!

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